Critical Software usa IA para tornar o sistema de mísseis europeu mais “eficaz e inteligente”

A Critical Software está a usar a inteligência artificial (IA) para desenvolver uma plataforma que vai ajudar o sistema de mísseis europeu a ser mais “mais inteligente e eficaz”. A tecnológica portuguesa faz parte do consórcio europeu a desenvolver o projeto BEAST, financiado em 35 milhões pelo Fundo Europeu de Defesa, no valor de 910 milhões de euros.
“A Critical Software, com a sua equipa em Portugal, vai ajudar a tornar o sistema de mísseis BEAST mais inteligente e eficaz, usando inteligência artificial, sem pôr em risco a sua segurança nem o seu funcionamento”, adianta João Pedro Mortágua, senior business development manager da Critical Software, ao ECO.
Com um financiamento de 35 milhões do FED, o BEAST (Boosting European Advanced Missile System Technology) é um projeto de investigação e desenvolvimento que tem como objetivo “criar conceitos modulares e adaptáveis para futuros mísseis de curto alcance”, explica o responsável da Critical Software.
“Visa entender os requisitos das operações aéreas futuras, avaliar opções tecnológicas avançadas e desenvolver mísseis capazes de enfrentar ameaças emergentes, como aeronaves de 5.ª e 6.ª geração, ‘enxames’ de drones, mísseis de cruzeiro e guerra eletrónica“, detalha.
A entrada da empresa no projeto — onde está a desenvolver uma plataforma para automatizar a implementação de modelos de IA no software principal do sistema de mísseis, apoiando o “desenvolvimento de tecnologias de defesa mais reativas, adaptáveis e eficientes” — surgiu através da ligação da tecnológica à alemã Diehl Defence, líder do consórcio, e do qual fazem “parte empresas e centros de investigação de 12 países europeus, tais como a SAAB (Suécia), a SENER Aeroespacial (Espanha), a GKN Fokker Aerospace (Países Baixos), a Hensoldt (Alemanha) ou a Northrop Grumman (Itália), por exemplo”, elenca.

“O projeto BEAST deverá estar terminado em 2028. No final do projeto, serão apresentados vários resultados relevantes para os países participantes e para a indústria de defesa europeia, incluindo, por exemplo, uma visão comum sobre o futuro sistema de mísseis e algumas propostas de novos conceitos de mísseis”, adianta João Pedro Mortágua. “Estes resultados ajudarão a preparar os próximos passos para termos uma capacidade europeia militar mais moderna e eficaz“, reforça.
Este não é o primeiro projeto da tecnológica nacional na área de Defesa. “A Critical Software trabalha em projetos de defesa desde a sua origem, desenvolvendo soluções de software para missões críticas — nas quais há vidas humanas em risco —, sempre com o intuito de ajudar a construir um mundo melhor e mais seguro. Os primeiros clientes da Critical Software na área da defesa foram a Marinha Portuguesa ou a Westland Helicopters”, explica.
“O mundo atual impele-nos a sermos mais interventivos e ativos na construção de soluções de paz, que garantam segurança e em que os valores democráticos sejam salvaguardados. Enfrentamos, hoje, desafios e ameaças que estão a pôr em risco a paz que demos por adquirida até há bem pouco tempo. Desenvolver aplicações e sistemas de defesa é, neste momento, uma obrigação para a Critical Software, em prol de uma Europa mais coesa e segura”, diz ainda o responsável.
Oportunidade para a indústria nacionalA guerra na Ucrânia tem colocado o tema da Defesa nas prioridades da União Europeia que tem vindo a urgir os Estados-membros a reforçar o seu orçamento nesse campo. Em maio, a Comissão Europeia aprovou um fundo de 150 mil milhões de euros (o SAFE) para conceder empréstimos aos 27 Estados-membros interessados na compra conjunta de equipamentos militares.
E através do fundo europeu, está a disponibilizar um montante de 7,9 mil milhões para, entre janeiro de 2021 e dezembro de 2027, ser aplicado na área de investigação (2,6 mil milhões) e projetos concretos (5,3 mil milhões).
O foco europeu em reforçar a autonomia estratégica e criar capacidades dentro das fronteiras da UE trará espaço para que as empresas portuguesas integrem mais cadeias de valor, colaborem em novos programas multinacionais e liderem nichos de inovação. Parece-me que o desafio, agora, será alinhar prioridades, acelerar parcerias e garantir que o ecossistema nacional está preparado para responder com agilidade e qualidade a este novo momento da história europeia.
Uma oportunidade para o setor tecnológico nacional? “No caso da Critical Software, achamos que a expansão ativa e célere de sistemas avançados de defesa — onde possamos utilizar a nossa experiência e o nosso conhecimento em software de missão crítica — será uma oportunidade. Portugal tem, certamente, outras empresas tecnológicas que têm demonstrado abertura para investir mais no setor da defesa”, diz João Pedro Mortágua.
“Julgo que o foco europeu em reforçar a autonomia estratégica e criar capacidades dentro das fronteiras da UE trará espaço para que as empresas portuguesas integrem mais cadeias de valor, colaborem em novos programas multinacionais e liderem nichos de inovação. Parece-me que o desafio, agora, será alinhar prioridades, acelerar parcerias e garantir que o ecossistema nacional está preparado para responder com agilidade e qualidade a este novo momento da história europeia”, diz.
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